quinta-feira, setembro 14, 2006

Empreendedores brasileiros da Web 2.0 investem em modelos testados nos EUA

Por Guilherme Felitti, repórter do IDG Now!

São Paulo - Entre a competição feroz de serviços internacionais e a falta de investimentos, o mercado de Web 2.0 nacional se apóia no gosto do usuário brasileiro por comunidades.

O termo Web 2.0 tomou forma no final de 2005 não apenas se propondo a oferecer ferramentas que ajudassem o usuário a interagir com o conteúdo online, como o pesquisador Tim O'Reilly definiu o conceito.

E, como todo conceito, uma nova onda de empresas e serviços chegaram ao mercado de internet. São aplicações online, que libertam o usuário do desktop e do sistema operacional, e, na maioria das vezes, permite a colaboração e participação intensiva do internauta na construção do conteúdo.

>Conheça serviços brasileiros de Web 2.0

Você gosta do Flickr, serviço de fotos do Yahoo!? Conhece o Digg, site onde o usuário manda o conteúdo e vota nas notícias mais importantes? Gosta de usar o Writley, do Google, para escrever os seus textos? Bem-vindo, você está na era da Web 2.0.

Uma nova safra de empreendedores brasileiros está apostando nessa idéia. Com pouco dinheiro, fruto de investimentos pessoais, e com modelos de negócios baseados nos desenvolvidos lá fora, essas empresas ainda não atrairam a atenção dos investidores de capital de risco.

"Existe um grande espaço para que funções online, como o Aprex, cresçam no Brasil”, afirma Roberto Icizuca, diretor de criação da ZeroUm Digital, responsável pelo pacote de aplicativos online Aprex, com leves inspirações do pacote BaseCamp.

Por maior que seja o poder das empresas internacionais, o executivo acredita no potencial do mercado entre usuários que não falem inglês ou prefiram trabalhar em português, algo oferecido pelo Aprex.

Marcus Regueira, gestor da Fir Capital, empresa de capital de risco que investe em novos negócios, vê também potencial para que serviços nacionais compitam globalmente. "O Brasil tem todas as condições de competir globalmente, desde que o modelo de negócios seja genuinamente global".

Além das habituais qualificações do empresariado brasileiro, como criatividade e domínio de tecnologia, Regueira vê a pequena quantidade de capital disponível como vantajoso, já que desenvolvedores nacionais formulam novos serviços "com menos dinheiro".

Enquanto novos empreendedores recorrem a investidores, a ZeroUm crê no retorno dos 500 mil dólares investidos do bolso dos próprios sócios em apenas um ano, graças à receita vinda de assinaturas e da reprodução de publicidade para usuários de contas gratuitas.

“Existem investimentos no Brasil em Web 2.0 e nós somos um exemplo vivo, ainda que sem capital de risco”, afirma Icizuca.

Regueira, pelo sentido contrário, acredita em um mercado um pouco menos aquecido pelo "estágio emergente do próprio mercado de Web 2.0 no mundo", que não traz nada de tão especial em relação às alternativas brasileiras, segundo o gestor.

A ZeroUm, no entanto, passa longe do exemplo típico das novas empresas de Web 2.0 que se arriscam no ainda desconhecido mercado brasileiro, por contar com o modelo de assinaturas em um serviço não disponível por provedores internacionais.

E quem depende apenas dos anúncios? Exemplo desta prova de sobrevivência são os clones do Digg, um site no qual o internauta faz ou envia o conteúdo e depois vota. Assim, as notícias mais votadas vão para o topo da página, as menos são “enterradas”.

Os brasileiros Eu Curti, o Linkk e o OverMundo, iniciativa de jornalismo cidadão capitaneada por Ronaldo Lemos, Hermano Vianna e Marcelo Zacchi, são exemplos de iniciatavas Web 2.0 nacionais que se basearam nos modelos de sites internacionais.

Fruto do investimento inicial de 50 mil reais, o EuCurti, que pertentce a empresa Gauge, é exemplo das dificuldades dos empreendimentos da Web 2.0 brasileira. “Hoje, temos uma média de 400 visitas diárias”, afirma Dante Calligaris, sócio da Gauge. O Digg, por exemplo, já conta 8,5 milhões de usuários únicos que acessam o site diariamente.

Diferenciação
“Em médio prazo, acho que os serviços nacionais podem sobreviver. O modelo de propaganda online no Brasil ainda está imaturo em relação aos Estados Unidos e à Europa”, afirma Ivan Moura Campos, ex-coordenador do Comitê Gestor da Internet e atual consultor de tecnologia.

Um dos grandes desafios dos empreendedores nacionais é competir com gigantes internacionais, como Google, Microsoft e Yahoo. Estas empresas contam com infra-estrutura e recursos para desenvolver os serviços online. Depois, são capazes de distribui-los para todo mundo a custo praticamente zero.

Neste caso, a chave dos empreendedores nacionais é buscar uma forma de diferenciação do competidor internacional. Veja o exemplo do Aure, um serviço que pode ser chamado no Flickr brasileiro, desenvolvimento pela empersa Atípico.

“A diferença (em relação ao Flickr) é que o usuário poderá enviar fotos para impressão em minilabs direto da interface online”, define Rogério Madureira, fundador e diretor-geral da empresa Atípico.

Web 2.0 na publicidade e em portais
Entre agências de publicidade, o habitual mistério que acompanha a idéia de Web 2.0 começa a ser desvendado por empresas de grande porte, que começam a enxergar o potencial do conceito para interagir com faixas mais jovens de clientes.

“Você só faz dinheiro na web se tiver uma presença online que potencialize a produção dos usuários. O DNA da Web 2.0 é a comunicação de rede. Tudo que explora esta comunicação é bem-vindo e pode ser uma fonte de receita no Brasil”, afirma Abel Reis, vice-presidente de tecnologia da AgênciaClick.

Ele cita exemplos de empersas como Coca-Cola, que, com a criação de um ranking de blogs dentro do conceito de Web 2.0, o CokeRing, formulou uma maneira de atingir o público jovem.

Mesmo assim, Reis ainda não consegue apontar exemplos de empresários que venham ganhando no Brasil com Web 2.0, segundo ele, por falta de cultura nacional sobre o assunto.

“As pessoas estão tateando no Brasil. Quando falamos para o cliente sobre Web 2.0, ele pergunta na hora o que é isto. Se o executivo de marketing não conhece, como podemos esperar que o usuário médio conheça?”, questiona.

A forte adoção de usuários brasileiros a serviços online também deverá impulsionar o sucesso da Web 2.0 no Brasil, no que Reis chama de “terceira onda da internet”.

“Blogs e redes sociais criam um fenômeno em que o usuário não é apenas um distribuidor de conteúdo, o que cria condições para a emergência de micros e nanos centros de audiência. E o Orkut é exemplo de que o brasileiro é entusiasta da formação de comunidades”, diz.

A capitalização dos esforços dos usuários já pode ser observada em grandes portais da internet brasileira, que apostam suas fichas em canais com material enviado por usuários.

O “Jornalismo Cidadão” proposto pela “Minha Notícia” já atraiu mais de 200 mil usuários para o iG em menos de dois meses de sua criação, segundo dados do portal, e já foi definida como área em que o site dedicará atenção especial.

Além de também citar a rede social do Google como indicativo, Moura acredita que “a Web 2.0 não só dá dinheiro, mas é inexorável”, tanto entre empresas como entre usuários domésticos.

“Não podemos nos deixar nos levar por uma nova onda. O atraso pode ser uma vantagem, já que alguém que cria primeiro abre o mercado pra você”, afirma, projetando um aquecimento no mercado nacional após a estabilização da Web 2.0 mundial.